Na questão 932 de “O Livro dos Espíritos”, Allan Kardec indaga aos Benfeitores da Humanidade: Por que, no mundo, tão frequentemente, a influência dos maus sobrepuja a dos bons? E a resposta dos Espíritos superiores é: “Por fraqueza destes. Os maus são intrigantes e audaciosos, os bons são tímidos. Quando estes o quiserem, preponderarão.” Potencialmente todo homem é bom. Somos filhos de Deus, criados, segundo a expressão bíblica, à Sua imagem e semelhança. Intuitivamente pressentimos que nossa realização e felicidade, como filhos de Deus, está condicionada à realização do Bem. Aristóteles define com simplicidade o assunto: A Felicidade consiste em fazer o Bem. Não obstante, com frequência nos comprometemos com o mal. Esta é, talvez, a maior contradição humana, inspirando a sábia observação de Paulo, na Epístola aos Romanos (7;19): Porque não faço o Bem que quero, mas o mal que não quero, esse faço. Somos de fato muito tímidos quando nos defrontamos com o mal. E não estou falando do mal enorme, tampouco estou falando do bem em grandes proporções. Aliás, precisamos parar de achar que bem e mal são coisas de grandes escalas. Também o são, mas ambos estão presentes nas pequenas ações do dia a dia. É curioso esse dado do ser humano: achar que para fazer o bem é necessária grande soma em dinheiro, feitos grandiosos etc. Por essa razão, o mal prospera. E prospera por quê? Por fraqueza dos bons, traduzida em preguiça, falta de interesse, medo de fazer o bem. Políticos corruptos cometem atrocidades proclamando defender o bem-estar social e o progresso da nação, e os bons se sentem tímidos em suas ações. Mesmo os que gostariam de cogitar apenas do Bem, convivem pacificamente com o mal e até se envolvem com ele. São frequentes os escândalos em empresas públicas. Funcionários desonestos apropriam-se de vultosos valores que não lhes pertencem. A ganância de ganhar dinheiro induz empresários a ignorarem elementares medidas de preservação do meio ambiente, por serem dispendiosas. Poluem a atmosfera, destroem florestas, matam rios, intoxicam a população e semeiam enfermidades, e os bons não fazem nada. A transição entre o Bem e o mal, a vitória das potencialidades divinas em nós, opera-se a partir de pensamentos no Bem. Não estão sozinhos. Há gente que está lutando, que está enfrentando os problemas do mundo, procurando fazer o melhor, tentando realizar o Bem, trabalhando com denodo e perseverança. É preciso que façamos parte destas fileiras de operários do Bem. Que esses milhares sejam milhões. Que o ideal do Bem conquiste os corações! Que se semeie tanta luz que as sombras se retraiam! Que se exemplifique tanto a fraternidade que o egoísmo não encontre onde se apoiar! Que se exercite tanto a bondade que não haja espaço para a maldade! Então, sim, superando a omissão dos bons, o Bem preponderará.